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Light without shadows is notting because the shadows are where the secrets hide.

By J. Riley Stwart

sexta-feira, 29 de novembro de 2019






Voltando-nos para o norte, temos em frente a silhueta pardacenta do monte «Graciosa», sem uma casa e sem uma árvore. Interrompe subitamente, não muito longe do mar, traça uma diagonal na atmosfera parabólica e prossegue e prossegue horizontalmente com um cansado do primeiro esforço que fizeram para a conquista do espaço.


Tarrafal, aldeia da morte
O diário da B5


quarta-feira, 27 de novembro de 2019






O metropolitano de Moscovo constitui a suprema dádiva de Estaline à cidade; um empreendimento bastante mais útil do que os imponentes blocos de escritórios e hotéis de estilo aproximadamente gótico que construiu ou até mesmo os choupos que plantou aos milhares…


Requiem pela Europa


terça-feira, 26 de novembro de 2019







Colin acabava de se vestir. Ao sair do banho enrolara-se numa ampla toalha de tecido felpudo, que apenas deixava à mostra as pernas e o tronco. Tirou o pulverizador da prateleira de vidro e pulverizou com óleo fluído e odorante os seus cabelos claros. O pente de ambas repartiu a cabeleira sedosa em compridos fios cor-de-laranja, semelhante aos sulcos que o jornaleiro brincalhão traça com o garfo na compota de damascos.

A espuma dos dias

segunda-feira, 25 de novembro de 2019







A função da criança, é viver a sua própria vida, não a vida dos seus pais, angustiados, pensam que ela deve levar, nem a que está de acordo com os priopósitos de um educador que imagina saber o melhor. Toda a interferência de adultos só produz uma geração de robôs.


Liberdade sem medo (Summer Hill)

domingo, 24 de novembro de 2019






– Fazes-nos companhia para jantar, espero – perguntou a mãe dele. Era baixinha e morena e vagamente pardacenta.
– Talvez! – disse eu – tenho de estar em casa às dez. E, além disso, não… aah… não como carne.
– Não há problema. Vegeteneriazámos uma parte – disse ela


A culpa é das estrelas


sábado, 23 de novembro de 2019







CENA 1
(Aparece do lado direito um grupo carnavalesco nas mais variadas fantasias zoomórficas, encabeçado por um gorila e uma catatua. O cortejo entra no palco, em grande algazarra, a bailar um samba. Às tantas a cacatua repara no Casino e pára estupefacta) 


CACATUA
Oh! Oh! Oh! Será que estou no meu juízo perfeito?

GORILA
Que aconteceu?


O Paraíso

sexta-feira, 22 de novembro de 2019







— É o ladrão que mataram aqui na semana passada – disse a mulher no mesmo tom – sou a mãe dele.
O sacerdote examinou-a. Ela olhou-o fixamente, com um domínio tranquilo, e o padre ruborizou-se. Baixou a cabeça para escrever.


Os funerais da mamã grande

quinta-feira, 21 de novembro de 2019





Pelagueia há-de ter ficado contente por ele ter morrido
Alguns diziam:
— Não morreu: rebentou.
Quando enterraram o caixão as pessoas saíram, mas o cão ficou, deitado na terra fresca, em silêncio, cheirando o túmulo por muito tempo. Alguns dias depois alguém o matou; não se soube quem.


A Mãe

quarta-feira, 20 de novembro de 2019





A jovialidade de Carlos era voluntariamente louca, dava-lhe uns ares de inconsequência. O certo é, porém, que nunca ele deixou de amar Roberto, de querer ao irmão mais do que às suas amantes e de sofrer, senão pela sua piedade, pelo menos pela jovial afetação sob a qual este dissimulava aflição.

O Abade C.

terça-feira, 19 de novembro de 2019






—  Essas bestas universitárias cansam a gente. Como têm pose!. Devaim ter trabalhado numa granja como eu. Esses operários estão muito acima deles.
— Eu gosto desses operários vulgares – afirmou Carol com veemência.
—  Somente do que você não deve esquecer-se é que esses operários vulgares não se acham vulgares.
— Você tem razão. Retiro a palavra…


Rua principal

domingo, 3 de novembro de 2019






As senhoras que o tinham introduzido na sociedade surpreenderam-se ao verificarem como se  alargara o seu círculo de relações. Os sentimentos dessas senhoras eram confusos. Por um lado ficaram satisfeitas com o êxito do seu protegé e, por outro, um tanto despeitadas ao vê-lo em tais termos de intimidade com pessoas com quem elas continuavam a manter relações de absoluta cerimónia.


O fio da navalha

sábado, 2 de novembro de 2019





A milhã, rapineira de energia dos arrozais, pouco lá entrara; a branca só invadira um ou outro pé; e o lio e a sarna também tinham ficado lá por baixo, a enfeitar a água, e a verem crescer a sua seara; sua, pois então: ninguém lhe dera tanta canseira e apaparicos.


Gaibéus

sexta-feira, 1 de novembro de 2019






E se não fosse a nossa relutância em enfrentar mudanças culturais em questões essenciais, enquanto elas se não nos impõem, não seria impossível assumir uma atitude mais inteligente e autorizada. Aquela relutância é em grande parte um resultado da nossa incompreensão das convenções culturais e, especialmente uma sublimação daquelas que pertencem à nossa nação e à nossa década.


Padrões culturais